RELATO DE EXPERIÊNCIA

RELATO DE EXPERIÊNCIA
Viçosa, 11 de março/2010; Universidade Federal de Viçosa.

Convidada para mostrar o que é Psicodrama , numa turma de Dinâmica de Grupo, a um grupo de universitários, topei! E agradeço!
Poderíamos fazer , eu dirigir, um Psicodrama ou um Sociodrama, o grupo diria!
1ª Etapa: Aquecimento
Iniciei referindo-me à Moreno, a partir do texto indicado, aquecendo o grupo, com um re-conhecimento sociométrico (referindo-me à sociometria). O grupo foi se apresentando e configurando-se: estudantes de vários cursos, matriculados na mesma disciplina, percebendo diferenças e identificações...identidades, a maioria delas morando fora de casa(do grupo familiar)...universitários(exercitando autonomia)!!!
Aqueci mais especificamente o grupo, dando-lhes a consigna para observarem e reconhecerem o espaço, a sala de aula(locus do grupo), depois os colegas(o status nascendi...a interação)e a seguir perceberem a si mesmos(a matriz...o grupo). De olhos fechados, então, percebendo suas sensações e sentimentos ao se movimentarem encostando-se uns nos outros.Andando de olhos fechados. Por último, identificando suas auto-percepções foram representando no corpo sensações e sentimentos vivenciados no “aqui agora”. Identificando um sentimento e depois relacionando-os : proximidade/conforto, rejeição/desconforto ou indiferença (“tanto faz”); o grupo organizou-se sociometricamente em três sub grupos. O grupo revelou-se próximo, um clima emocional favorável .
Indagando ao grupo se alguém gostaria de partilhar uma cena a partir daquela vivência, uma estudante se apresentou: a protagonista!
2ª. Etapa: Dramatização
Contou sua estória, escolheu no grupo os personagens (ego-auxiliares) e dramatizamos a cena. Escolheu quem a representasse (com quem inverteu seus próprios papéis) e junto ao grupo reviveu a cena...temida, mau digerida! Da primeira cena sua multiplicação, para então, a “resolução”.
3ª.Etapa: Compartilhamento ou saharing
Após a dramatização chegamos ao compartilhamento. A protagonista emocionada valida sua coragem! Compartilhou com o grupo e a partir daí, vários colegas relataram suas revivescências(estórias vividas) , falando com o coração, também compartilhando sentimentos.
4ª. Etapa: Processamento
Utilizamos as técnicas psicodramáticas: o solilóquio(pensando em voz alta), a inversão de papéis(inverteu com os papéis, próprio e dos familiares envolvidos na cena) ,o duplo (emprestando a voz à protagonista ,ora aos personagens da cena nos seus contra-papéis, pelos ego-auxilires e diretora), o espelho(reproduzindo atitudes corporais da protagonista) criando possibilidades para que a protagonista, o grupo, realizasse a “catarse de integração” .O objetivo de todo Psicodrama é a catarse de integração: a reorganização psíquica e emocional a partir da integração do vivido(ação), pensado(cognição e palavra) e sentido no aqui agora. Propicia, desta forma, a transformação necessária para que a espontaneidade volte a fluir para que a tele (unidade afetiva,percepção não distorcida) prevaleça à transferência(distorções na percepção de si e do outro nos vínculos atuais, contaminando-os pelos conflitos anteriormente vivenciados).

Percorremos a “matriz de identidade”(o grupo familiar, os vínculos) identificando as marcas, e suas cargas emocionais , reconhecendo o direito de “errar” ou de “não passar”, de não necessariamente atender as expectativas dos outros(script), valorizando suas trajetórias, vitórias e conquistas(“Eu passei no vestibular!!!”).

De forma bastante respeitosa o compartilhamento revelou a todos nós presentes, o alcance do Psicodrama - a força do grupo, o valor da com-vivência.
Agradecemos à protagonista, ao grupo... Ao final, muitos beneficiados, transformando-se, re-conhecendo-se, criando novas possibilidades como jovens em pleno exercício de suas autonomia e espontaneidade... Ao reviverem suas próprias cenas, a partir da cena dramatizada, e no compartilhar de vivências e sentimentos identificamo-nos seres humanos, pertencentes, inter-relacionais.
Realço a gratidão pela genialidade de Jacob Levy Moreno, criador , da Socionomia, da sociometria e da Sociatria (Psicodrama, Sociodrama e Psicoterapia de Grupo) a quem seu filho, Jhonatan, assim se referiu:
[...] em outros tempos, Moreno talvez teria sido um profeta religioso, um mágico ou um guru; em seu próprio tempo, ele foi tudo isso e mais, um cientista. Qualquer que fosse o seu papel, ele teria procurado curar almas enfraquecidas, restabelecer vidas que não tinham sentido e ajudar aqueles que tivessem perdido seus sonhos a sonhar de novo... (MORENO, 1997, p.05).

Dolores Maria Pena Solléro
Psicdramatista –IMPSI/FEBRAP